Acre, Rondônia e Mato Grosso avançam nas negociações com a China sobre ferrovia que ligará o Atlântico ao Pacífico passando pela Amazônia
O projeto da ambicionada obra capaz de ligar os oceanos Atlântico, no Brasil, e o Pacífico, no Peru, a chamada Ferrovia Transoceânica, que deverá ser construída a um custo de 30 bilhões de dólares, deu mais um passo rumo à sua concretização.
Antes do Carnaval, representantes dos governos de Rondônia, Acre e Mato Grosso se reuniram em Ji-Paraná (RO) com uma comitiva chinesa de 23 empresários, que têm negócios no Brasil e a pauta do encontro foi a retirada do projeto do papel para a construção da Ferrovia passando pelo território acreano.
Os debates em torno desta obra vêm desde maio de 2008, quando ela foi incluída no Plano Nacional de Viação. De acordo com projeto inicial, a Ferrovia Transoceânica - também conhecida como Ferrovia Transcontinental e Ferrovia Bioceânica - ligará o litoral norte do Rio de Janeiro à malha ferroviária do Peru, passando pelas cidades de Campinorte (GO), Lucas do Rio Verde (MT), Vilhena (RO), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Cruzeiro do Sul (AC) e Boqueirão da Esperança, na fronteira do Brasil com o Peru. A extensão total é estimada em 4.400 km.
Até 2009, somente o trecho entre Campinorte (GO) e Vilhena (RO) teve seu pré-projeto concluído e foi estimada que a extensão desse trecho seria de 1.500 quilômetros, a um custo de R$ 5,25 bilhões em bitola larga permitindo uma velocidade de até 120 km/hora.
A construção finalmente foi acertada, com financiamento e compartilhamento da ferrovia entre os governos brasileiro, peruano e chinês em 2014, e a construção seria iniciada em 2015, com financiamento do AIIB (Banco de Infraestrutura Chinês), porém o prazo previsto não foi cumprido.
Investimentos múltiplos no território brasileiro
Após as reuniões de governantes do G20, na China, em setembro de 2016, o governo chinês entrou em acordo com o governo brasileiro, prometendo investimentos múltiplos no país sul-americano, entre os quais a efetiva construção da Ferrovia Transoceânica, que já tinha, naquele momento, o projeto de análise de viabilidade econômica concluído, com previsão de que sua conclusão abrirá a rota de exportação pelo Pacífico, barateando custos de transporte de minérios e grãos para o país asiático.
A reunião ocorrida em Ji-Paraná mostrou, no entanto, que o governo chinês, que deverá financiar a maior parte da construção, não desistiu do projeto. O encontro dos empresários com autoridades brasileiras foi liderado pelo embaixador da República Popular da China no Brasil, Ji Jinzhang. De acordo com o embaixador, os chineses estão interessados, principalmente, na carne bovina e na soja produzidas pelo Mato Grosso, Rondônia e Acre.
“Os chineses querem construir a Ferrovia porque têm estudos de que, apesar do alto valor do investimento, com o tempo o governo chinês acabaria saindo no lucro porque os produtos importados do Brasil chegariam à Ásia com o valor de transporte bem mais abaixo do que é pago atualmente”, diz o diretor-presidente da Agência de Negócios do Acre (Anac), Inácio Moreira.
“Além disso, os chineses querem se livrar da dependência do Canal do Panamá, por onde passam os produtos destinados à Ásia, já que o Panamá é um país sobre forte influência dos Estados Unidos”, acrescentou. A reunião de Ji-Paraná foi a primeira entre os representantes dos governos dos três estados e a comitiva chinesa.
Do encontro participaram senadores, deputados federais, estaduais e empresários das três federações – Comércio, Agricultura e Indústria. A iniciativa teve o objetivo de fazer com que os chineses conhecessem as potencialidades econômicas da região para que considerem a viabilidade do projeto da construção da Ferrovia Bioceânica que irá ligar o Atlântico ao Pacífico, na costa peruana.
Encontro mostra importância da parceria econômica
No encontro de Ji-Paraná, um protocolo de intenções foi assinado pelos governantes dos três estados e pelo embaixador da República Popular da China, Ji Jinzhang, estabelecendo normas e deixando claro o interesse da parceria econômica internacional entre o Brasil e a China.
O governador de Mato Grosso, Pedro Taques, falou do potencial produtivo de seu estado, projetou que em 10 anos Mato Grosso estará produzindo 200 milhões de toneladas de grãos e afirmou que, sozinho, o estado não terá condições de exportar o produto, destacando a importância da ferrovia. A vice-governadora do Acre, Nazaré Araújo, destacou a importância de Brasil e China estarem juntos nessa parceria econômica internacional comercial e industrial.
O senador pelo MDB de Rondônia Valdir Raupp também lembrou a importância da ferrovia, principalmente o trecho de 800 quilômetros que fica entre Sapezal (MT) e Porto Velho (RO), onde a exportação de carne e soja é muito grande. O prefeito de Ji-Paraná, Jesualdo Pires, falou sobre as peculiaridades dos três estados, registrando que em Rondônia a agricultura é formada por 160 mil pequenas propriedades rurais e agradeceu o povo chinês pelo interesse em investir no Brasil, principalmente na região Norte.
O embaixador chinês Ji Jinzhang disse que, na hora em que o hino nacional brasileiro estava sendo executado, pôde perceber o patriotismo dos povos dos estados de Rondônia, Acre e Mato Grosso e disse que a parceria entre Brasil e a China vem de longe. Segundo ele, em 2012 os dois países aumentaram o nível de parceria estratégica global, econômico comercial e financeiro e ressaltou: “Nós queremos mais precisamos eliminar os eventuais obstáculos; um desses obstáculos é a longa distância física que existe entre os dois países”.
Presente no encontro de Ji-Paraná, o embaixador da China no Brasil, Ji Jinzhang, destacou ainda que desde que chegou ao Brasil ouve falar na construção da Ferrovia Bioceânica e lembrou que, no ano passado, os presidentes da China, Peru e Brasil assinaram uma “Declaração Conjunta” para viabilidade desse projeto. E desde então os Ministérios dos Transportes desses países já discutiram o assunto diversas vezes.
Ji Jinzhang lembrou que o primeiro-ministro da China esteve no Brasil em audiência com a então presidente Dilma Rousseff, quando assinou um documento para iniciar os estudos de viabilidade da ferrovia. “Isso significa que já estamos trabalhando em parceria para a construção da ferrovia. Nosso sonho é tirar do papel esse projeto”, afirmou o embaixador. Ele também falou da importância de investimento na capacidade de produção e de infraestrutura e finalizou dizendo que o governo da China incentiva empresários chineses a investirem no Brasil.
O vice-governador de Rondônia, Daniel Pereira, representando o governador Confúcio Moura, falou que a ferrovia não irá integrar apenas os três estados da região, mas todas as federações do Brasil que sempre tiveram distantes. “Esse projeto vai permitir transformar a América Latina em um só povo”, disse Daniel Pereira, que além das relações comerciais e industriais sugeriu um intercâmbio linguístico para que brasileiros e chineses possam se comunicar de forma direta. O vice-governador também falou da importância turística entre os dois países. (TM)
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